Inteligência

 Pesquisadores contestam o teste do QI 
(quociente de inteligência), que mede apenas a lógica.


Que forma de inteligência você tem?

Os pesquisadores atuais, como o antropólogo Stephen Jay Gould, autor de A má medida do homem, e Howard Gardner, professor na Universidade de Harvard e autor do livro Formas de inteligência, afirmam que o teste de QI mede apenas um tipo, a inteligência lógica. Segundo eles, existiriam várias outras formas de inteligência, como a musical, a literária, a espacial e a do corpo, que não são medidas pelo teste do QI. Isso explicaria por que pessoas com baixos resultados no QI são, no entanto, extremamente bem-sucedidas.

Gardner vai mais longe: cada um de nós possui, em grau maior ou menor, vários tipos de inteligência. Há, segundo ele, em primeiro lugar, por ser mais conhecida, a inteligência lógica ou matemática, da qual Einstein é um belo exemplo. Mas há também a inteligência espacial, de Picasso, dos arquitetos, dos pintores, de todos que sabem manejar as formas.

A inteligência lingüística seria exemplificada pelo poeta anglo-americano T. S. Eliot, enquanto a inteligência musical seria, por exemplo, a do compositor Mozart. A inteligência do corpo é revelada pelos grandes esportistas e por atores mímicos, como Marcel Marceau. Existe ainda a inteligência segundo a qual uma pessoa é capaz de compreender outras pessoas, como a de Freud, o fundador da psicanálise, e a de Gandhi, o líder da não-violência que conseguiu a independência da Índia. E ainda há a inteligência de uma pessoa compreender profundamente a si mesma, como as inteligências dos escritores Joyce, irlandês, e Proust, francês.

Ainda segundo Gardner, nenhuma pessoa usa só um tipo de inteligência. Um músico, além das aptidões musicais, mobiliza também a lógica e o senso do movimento. Um cientista não tem apenas a racionalidade, mas também a capacidade de compreender a natureza e, mesmo, de compreender outras pessoas. Mas nenhuma pessoa tem todos os tipos de inteligência. Assim, mesmo uma pessoa excepcional como Leonardo da Vinci, que se distinguiu na pintura, na ciência da anatomia, pelas invenções que exigiam capacidades lógicas, espaciais e de observação da natureza, não tinha inteligência musical e talvez fosse incapaz de compreender-se a si próprio e de compreender aos outros.

Gardner chama ainda a atenção para o fato de que a inteligência não se confunde com o senso moral. Se tanto o poeta Goethe como o ministro da Propaganda nazista Goebbels tinham um domínio completo sobre a língua alemã, o primeiro escreveu poemas maravilhosos, enquanto o segundo apenas cultivou o ódio entre os seres humanos.

Os testes de QI e outros testes semelhantes mediriam apenas as capacidades lógicas e lingüísticas e negligenciariam todas as outras aptidões humanas, diz Gardner. Para ele, há inteligências inatas, geneticamente adquiridas, mas que dependem da experiência de vida para se desenvolver. Se Mozart tinha uma aptidão inata para a música, o fato é que ele também tinha um pai músico e uma mãe música. Afirma Gardner:

"- Digamos que cada um de nós possui ao nascer formas promissoras de inteligência - se lhes dermos um empurrãozinho, nós as faremos progredir rapidamente - mas também outras formas mais trabalhosas: é preciso muito mais trabalho para desenvolvê-las. Cada uma dessas aptidões tem uma morfologia particular. Nossa lógica se desenvolve mais facilmente quando somos jovens. Em compensação, a percepção de si e dos outros se enriquece progressivamente ao longo da vida. Eis por que é absurdo buscar uma inteligência medida por um QI."

Para Gardner não é possível substituir a medida do QI, que considera inteiramente ultrapassada e inadequada, por outro tipo de medida de inteligência, pois esta é variável ao longo da vida. Cada um, segundo ele, pode melhorar sua inteligência, com a condição de trabalhar bastante. As inteligências "não estão fixadas numa pedra". Ele acrescenta:

"- Se você quer avaliar as disposições de uma criança, leve-a a um lugar rico de estímulos, como o Exploratório de São Francisco, nos Estados Unidos, ou a Cidade das Ciências de La Villette, em Paris. Para testar suas capacidades espaciais, deixe a criança achar seu caminho em Boston ou Paris. Eis aí métodos muito mais autênticos do que os testes."

Artigo originalmente publicado no
L' Express e extraído pelos professores

César, Sezar e Bedaque
do Jornal da Tarde

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