Neurociência e psicodinâmica: Desenvolvimento e integração

Neurociência e psicodinâmica: Desenvolvimento e integração

A busca de integração entre a psicanálise e as neurociências tem avançado dia a dia. Cada vez mais os neurocientistas debruçam-se sobre assuntos antes só abordados pela psicanálise (como os processos inconscientes, os sonhos, a empatia, etc) como também os psicanalistas vem utilizando as descobertas dos neurocientistas para fundamentar seus estudos (como a memória implícita na compreensão das relações objetais iniciais). A neurociência, com seu caráter multidisciplinar, têm apenas três décadas como área reconhecida, e vêm apresentando tal desenvolvimento que os anos 90 chegaram a ser chamados a “Década do Cérebro”. Assim, à medida que a tecnologia evolui, especialmente em disciplinas emergentes como a biologia molecular, o imageamento e a nanotecnologia, ampliam-se as possibilidades de uma melhor compreensão do que Freud, já em 1895, buscou esboçar em seu “Projeto para uma psicologia científica”: as bases cerebrais da psicologia. Apenas como exemplo, cabe conjecturar que a pesquisa neurocientífica sobre os neurônios espelho possa vir a fornecer uma nova base científica para a compreensão dos processos de empatia e identificação, e talvez, em um futuro próximo,  contribuir para melhor fundamentar a indicação do uso de poltrona ou divã,  em psicoterapia e psicanálise. Assim, se consideramos que a separação entre a mente e o cérebro é definitivamente arbitrária e apenas simplifica a complexidade de um sistema hipercomplexo, para poder estudá-lo por partes, a re-integração é sempre um passo necessário à medida que o conhecimento evolui. Na verdade, o estudo da mente cada vez mais ocorre de forma interdisciplinar e integrada, não podendo mais ser feito a partir de uma só disciplina.
Pode-se considerar que o grande desafio das neurociências consiste em transformar as informações e compreensões progressivamente adquiridas sobre o funcionamento cerebral – normal, em desenvolvimento e patológico – em ferramentas diagnósticas e terapêuticas efetivas. Neste contexto, os desafios da teoria psicanalítica são dois: primeiro, o de desenvolver estratégias de prevenção, bem como técnicas específicas de abordagem psicoterápica, para os diferentes tipos de pacientes e patologias, particularmente aquelas em que os resultados terapêuticos até então obtidos são pobres, na medida em que as neurociências contribuam para um melhor entendimento dos mecanismos neurais subjacentes; e, segundo, o de evidenciar e comprovar a eficácia das intervenções psicoterápicas psicodinâmicas, utilizando os recursos de pesquisa neurocientíficos, contribuindo assim para o seu reconhecimento e uso pleno nos programas de saúde e outras áreas do conhecimento. É dentro desse estimulante desafio que em setembro próximo, de 16 a 18, o Centro de Estudos Luís Guedes, do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estará realizando a XXV Jornada de Psiquiatria Dinâmica, em Gramado/RS. Trata-se de um evento amplo, com um público diversificado e exigente que busca atualização nos temas da saúde mental como um todo. Assim, a Comissão Científica organizou o programa em torno de três eixos que buscam abranger essa área do conhecimento: primeiro, as patologias clínicas, as doenças mentais sintomáticas; segundo, as estruturas de personalidade que fornecem a base dinâmica a partir da qual a saúde ou a doença se estruturam e se expressam; e, por fim, a violência, preocupação maior que assola nosso cotidiano gerando estresses, traumas e contextos complexos que desafiam a resiliência da população, gerando, facilitando ou potencializando adoecimento. A idéia é que a Jornada, a partir destes eixos organizadores, apresente um panorama integrativo atual da saúde e doença mental, dos fatores de risco e resiliência, das estratégias de prevenção e intervenção nas diferentes patologias e referenciais; buscando, sempre, integrar os enfoques psicodinâmico e neurocientífico.  www.celg.org.br

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