Contexto atual das terapias cognitivas

Próximo ao completar seus cinqüenta anos de atividades em estudos e práticas clínicas, as Terapias Cognitivas encontram-se hoje em um momento singular, no qual a busca crescente da população por suas terapêuticas caminha conjuntamente com os processos de investigação e reflexão de seus fundamentos teóricos e tecnológicos. Reflexões essas que partem do cotidiano dos psico terapeutas e pesquisadores que escolheram essa linha terapêutica para sua prática pro fissional. Singular momento no qual a história se repete, hoje com novos personagens. O fenômeno em si pode não ser o mesmo, mas o cenário é de extrema semelhança. A história se repete no complexo cenário que reflete as expectativas de um contexto sócio-cultural e no movimento de estar aderente à possibilidade de questionar, buscando assim resolutivas que viabilizem novas configurações terapêuticas. Cabe aqui relembrar que foram essas algumas das inquietações que emergiam nos anos de 1950/60, um contexto no qual reflexões e mudanças estavam ocorrendo momento a momento, tanto na sociedade quanto no âmbito das ciências. A sociedade carecia de novos olhares sobre as possibilidades de tratamentos das pessoas que sofriam de quadros recorrentes de depressão, ansiedade e demais quadros de sofrimento psíquico; esse estado de vulnerabilidade tornou-se um dos dispositivos de investigação para psico terapeutas e pesquisadores sensíveis a essas questões. Inquietados com o que experienciavam em suas práticas pro fissionais e demandados pela necessidade de compreender esse complexo universo, viam emergir possibilidades em um fértil solo científico: o solo das ciências da cognição,1. Hoje, tal qual em suas origens, as Terapias Cognitivas continuam trilhando caminhos em busca de esclarecimentos e resolutivas em prol de melhor qualidade de vida de indivíduos que sofrem de conflitos psico emocionais e comporta mentais. Essa trajetória vem ocorrendo através de seus
inúmeros modelos clínicos. De acordo com os estudos de Mahoney 1, os modelos mais conhecidos entre os pro fissionais da área são: TREC (Terapia Racional Emotiva Comportamental) – Albert Ellis, Terapia Cognitiva – Aaron Beck, Terapias Construtivistas, Terapia Cognitiva e Comportamental – Meichenbaum, Terapia Pós-racionalista – Vittorio Guidano, Terapia Narrativa – Oscar Gonçalves e Terapia Integrativa. Muitos outros modelos também estão presentes dentro do conjunto das Terapias Cognitivas. Alguns deles,
porém, ainda não se configuram em modelos teóricos e tecnológicos, e sim somente como modelos tecnológicos provenientes das principais vertentes das Terapias Cognitivas. Na diversidade desses modelos as Terapias Cognitivas se reciclam constantemente. Percebe-se atualmente que elas estão mais amadurecidas e mais harmônicas; seus membros dialogam mais entre si. No decorrer desses quase cinqüenta anos, o fundamentalismo deu lugar à parceria investiga tiva e colabora tiva. Como em todo o processo de desenvolvimento de um novo paradigma, momentos de tensão subliminar estiveram presentes,
disputas ocorreram devido à divergência quanto ao surgimento da teoria, a visão de ser humano, os fundamentos epistemológicos, a propriedade dos conceitos teórico-clínicos, as nomencla turas vigentes (ex. Terapia Cognitiva e Terapia Cognitivo Comportamental), as questões de compreensão
do setting e também de delineamento e manejo clínico 2,3,4. Atualmente, é possível verificar com satisfação que a ênfase dialógica desloca-se da disputa, por vezes velada, existente em alguns momentos entre as vertentes terapêuticas e passa a percorrer um processo matu racional em prol da essência da terapêutica da cognição. A busca por essa clareza, bem como do conhecimento de cada aporte teórico e de suas tecnologias, vem gerando um entendimento mais consistente do processo psicoterápico proposto por esta prática clínica. Seguramente, em um futuro próximo, os psicoterapeutas cognitivistas poderão, a partir desse processo, conhecer mais profundamente os eixos norteadores das Terapias Cognitivas, ter mais clareza
das semelhanças entre as diversas vertentes cognitivistas, respeitando assim as diferenças presentes no complexo universo do fazer clínico. Essa maturidade não é e nem deverá ser um patamar, mas sim um
estado possível de respeito e parceria entre teorias filhas de uma mesma teoria mãe; aquela que vê na cognição e nos processos de significação e resignificação vias de acesso terapêutico.

Os primeiros fundamentos teóricos datam dos meados dar década de 1950 e as formulações
teóricas e técnicas propriamente ditas são relatadas a partir de 1970.6
Entenda-se aqui cognição como a experiência integral do conhecer. Cognição vem do latim cognitus, particípio do verbo cognocere, que significa conhecer. A cognição engloba todos os sentidos (auditivo, visual, gustativo, olfativo, tátil), bem como o raciocínio, a emoção, a linguagem, o comportamento, demais fenômenos mentais, bem como os elementos tácitos.

Simone da Silva Machado
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